Uma família,
uma difícil decisão
Conheça a história de Edgar, Erika e Tellys.
Edgar na fachada do restaurante Casa do Sírio.
— Hola, você é Júlia?
— Sim, sou eu mesma! - respondo animada, transparecendo toda minha ansiedade.
Edgar Rafael Padron Gonzalez, 42, deixa por alguns instantes sua função de garçom no restaurante Casa do Sírio, localizado no bairro Instituto de Previdência, na zona oeste da cidade de São Paulo, após ser avisado por sua gerente, Rose, que na recepção do estabelecimento havia uma estudante de jornalismo que desejava conversar com ele.
— Quero saber se você aceita me falar sobre sua vinda para o Brasil e como está sendo sua estadia em nosso país.
— Claro. Pode ser amanhã? Temos três horas de descanso e podemos atendê-la nesse período. Tudo bem?
— Perfeito.
Edgar foi logo me explicando que a conversa não seria só com ele. Sua esposa Erika e a prima dela, Tellys, também trabalham no local. Os três somam-se a uma colônia de migrantes venezuelanos que vivem muito próximos uns dos outros no bairro Jardim Jaqueline, na zona oeste de São Paulo. Uma maneira de manterem suas raízes e tradições.
Neste primeiro contato, ele já me adianta: “Estou gostando do Brasil, moça. Na Venezuela tudo tava ruim”. Edgar vivia em seu país natal com a aposentadoria de militar. O dinheiro que recebia não era suficiente para dar conta do alto valor dos alimentos no mercado. Há pouco mais de um ano, ele, a esposa e Tellys vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Edgar e Erika tiveram que deixar os três filhos na Venezuela, sob os cuidados do avô materno. “Não os vemos há mais de um ano”, diz, com um olhar triste.
No dia seguinte, quando chego ao restaurante para conversar, Tellys me avista de longe na calçada e me chama, com um lindo sorriso:
— Júlia, que bom que você veio. Entra! – diz, dando-me um abraço bem apertado.
— Bom te conhecer pessoalmente, Tellys. Só nos falamos por mensagem, depois que conversei com o Edgar - respondo.
— É um prazer, vamos sentar, fique à vontade!
Entro devagar e cumprimento todos. Os funcionários estão claramente em seus horários de folga. Edgar não está por ali, mas Erika sim. Sento-me à frente de Tellys e Erika. Percebo que os olhares ansiosos começam a me investigar.
— Podemos começar? - pergunto.
— Ela vai começar. - diz Erika, apontando para Tellys, enquanto se levanta para sair dali.
— Mas depois você também vai vir conversar, viu?! — diz Tellys, olhando para mim e dando um sorriso de quem conhece a prima e sabe que ela não gosta muito de papo.
Edgar, Erika e Tellys, respectivamente, enquanto aguardam o horário de trabalho.